Musical que contará a vida de Dona Ivone Lara estreia em setembro

Oxum ensina que vidas longas e bem vividas devem ser, antes de tudo celebradas.
 
Filha de Oxum, Dona Ivone Lara, ascendeu ao Orum para com sua mãe estar.
 
Aqui no Aiê, um imenso musical está sendo montado para contar sua história.
 
Poderia-se dizer o que se diz de todas as grandes pessoas – que Dona Ivone Lara, a primeira mulher a compor a ala de compositores de uma escola de samba foi maior que a pessoa. Não neste caso. Acontece que Yvone Lara da Costa, foi ainda maior que Dona Ivone Lara.
 
Tanto que, nos palcos, terá que ser vivida por três atrizes. O volume de inscrições para as audições que acontecerão em maio na cidade de São Paulo e escolherão suas intérpretes surpreendeu Elísio Lopes, dramaturgo experiente no teatro e na TV, autor do espetáculo “Dona Ivone Lara – Um sorriso negro”, que estreia dia 14 de setembro, no glorioso Teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro. Muito mexido, conversamos ao amanhecer.
 
“Ela foi minha tia, minha mãe, minha vó… Dessas negras que sabem que precisam lutar, vencer, as não abrem mão de sonhar. Eu tenho muito orgulho de ter escrito e de dirigir o musical que vai contar a história dela.” – Disse, entristecido, mas lisongeado. “A dramaturgia já foi lida e aprovada pela família sem ressalvas. É isso só me trouxe felicidade.”
 
Lembramos das muitas vidas de Yvone Lara da Costa. Da assistente social que nos anos 40 foi a principal parceira de doutora Nise da Silveira e, juntas, reformaram todo o tratamento manicomial em todo o mundo.
 
E lembramos da força que ela teve de seguir de pé depois que seu o filho mais velho sofreu um acidente de carro, ficou na UTI por mais de 40 dias e no mesmo período seu o marido morreu do coração. Ela enterrou o marido, cuidou do filho pelo resto da vida, mas não deixou de cantar e sonhar.
 
Os sambas que compôs formam um tratado de filosofia que em nada deve ao acadêmico-escrito. A filosofia mais antiga do mundo, a africana, é tradicionalmente oral, e teve motivos para sê-lo. Transmitida no boca a boca, é uma obra de co-construção. Cada pessoa que conta, aumenta um ponto, coloca um tanto de si, uma filosofia radicalmente horizontal, coperativa e inclusiva. Um sonho.
 
Hoje é dia de passar cantarolando “Sonho meu”, samba-sapiência e, mesmo triste, celebrar todas as Yvones com ípsilon, todas as Ivones com I, e pensar tudo o que se ainda pode ser. Quem sabe, tornar-se um pouco a mulher que hoje ascendeu. Tomar a coragem de viver as variedades de enredos que ela, a vida, ela, Oxum, ela, Dona Ivone, nos apresenta, como um musical.

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