A fraude Vingadores – Guerra Infinita (com spoilers)


Aviso, esse TEXTO CONTÉM SPOILERS, ou seja, conta o que aconteceu no filme Vingadores – Guerra Infinita, parte 1. 
 
Pois é. Parte um. Fomos ao cinema, vimos o filme, nos envolvemos, fomos envolvidos, sofremos a perda de personagens, as consequências, os desastres, para, no último terço, descobrirmos que estávamos diante uma farsa. 
 
Nada do que acontece nos últimos 20 minutos do filme, onde metade dos heróis morrem, é verdade.
 
Verdade até é, mas foram cuidadosamente, nos 10 anos de filmes dos Estúdios Marvel, colocados elementos que podem desfazer o jogo a qualquer momento.
 
Nada daquilo valeu. Ou você acha que Pantera Negra, Homem Aranha e Guardiões da Galáxia morreram? Que o estúdio matou personagens que ainda dariam muito dinheiro?
 
“Achou errado, otário!” –  Diria o Rogerinho do Ingá, o grande filósofo brasileiro de 2018.
 
Temos, para ressuscitar personagens, desfazer o que foi feito, ir a dimensões paralelas, os seguintes elementos: 
 
1) Homem Formiga e sua habilidade por transitar no universo Quântico e, logo, por universos paralelos, alternativos. Tudo o que vimos nesse Guerra Infinita, Parte 1, pode ter se passado em um universo alternativo, e não no mundo real.
 
2) Doutor Estranho e sua habilidade de ter consciência de que existem universos paralelos e que uma coisa que acontece nele pode não acontecer no nosso universo. E o fato de ser o guardião do Olho de Agamoto, a jóia do tempo, que pode desfazer, rebobinar, tudo o que foi feito.
 
3) Capitã Marvel, a próxima heroína dos estúdios Marvel (que, atrás da grana que Mulher Maravilha, da rival DC, arrebatou, é acionada nas cenas pós-créditos por Nick Fury) e sua habilidade de cruzar dimensões.
 
4) Adam Warlock, revelado nas cenas pós-créditos de Guardiões da Galáxia, volume 2, e sua habilidade em controlar a jóia da Alma e ressuscitar os mortos. Será ele, ano que vem, quem provavelmente irá reviver Gamorra. 
 
É isso. Tudo pode ser revertido. Tudo deve ser revertido. Por dinheiro. Até aí, tudo bem. Os Estúdios Marvel são uma empresa com fins lucrativos, não uma ONG humanitária.
 
O problema foi ter feito dois filmes. Um, esse primeiro, “de mentirinha”, como aqueles filmes em que descobrimos no final que era tudo um sonho do protagonista.
 
Pois é só a partir do filme que estreia no ano que vem, após os personagens reviverem e todos os desastres desfeitos a história irá realmente começar.
 
(Claro, isso pode ficar para os últimos dez minutos do próximo filme)
 
Mas nesse, o que tivemos foi um longo e eficiente trailler de apresentação do vilão, Thanos. 
 
Vingadores, Guerra Infinita parte 1, não é um filme. É um trailler de quase três horas de duração.
 
Que deve faturar mais do que qualquer filme na história do cinema.
 
Podemos imaginar, cinco, seis anos atrás, numa reunião de planejamento da diretoria dos estúdios Marvell o seguinte diálogo:
 
– Amigos do Conselho Financeiro, por dez anos, construímos o Universo Marvel no Cinema. Hora de faturar de verdade. Mas, peraí, porque ao invés de ganhar um bilhão com um filme, porque não fazermos dois e ganharmos dois bilhões?
 
– Mas como fazermos dois filmes? Não temos tanta história assim para contar. 
 
– Façamos o seguinte. No primeiro, não tá valendo nada. A gente simula a morte de metade dos personagens. Aí a gente faz o 2o filme, dessa vez valendo. Que tal!
 
– Brilhante! Ainda ganhamos também no marketing do segundo filme! Pois, com todos achando que os heróis morreram, cada peça de promoção da parte 2 de Guerra Infinita será turbinada pelo spoiler! Ou seja, quando anunciarmos que Tom Holland, intérprete do Homem Aranha, que morre no final desse filme de mentirinha, está no elenco do segundo filme, o de verdade, todos os portais de notícia irão dar a notícia com alarde! O mesmo com Zoe Saldanha (Gamorra) e Chadwick Boseman (Pantera Negra) e tantos outros! É Marketing já pronto! É dinheiro! Dois filmes! Como aquelas fraudes onde governos superfaturam obras e constroem um prédio de vinte andares onde só se precisam dez! Genial!
 
– Mas, e os fãs? Não vamos perder credibilidade com eles?
 
– Rapaz, fã? Você já viu fã pensar? Fã chora, reclama, xinga nas redes sociais, mas na hora do vamos ver, compra lá o nosso ingresso, o balde de pipoca customizado, o boneco pra colocar na prateleira…
 
De fato, quem, fã ou não, tem hoje a força de vontade de não participar de grandes eventos midiáticos? Acaba todo mundo dizendo: “Eu não gosto tanto de filmes de super heróis, mas tem tanta gente falando nele que vou acabar vendo”. 
 
É o feitiço da indústria de entretenimento. Colocar na sua cabeça que, se você não ver tal filme, tal série, não tiver tal boneco ou pôster ou balde de pipoca customizado com a logo do produto em casa, você é um fracasso como pessoa. Ficou fora da festa. E todo mundo lá dentro, feliz e consumindo.
 
Vingadores, Guerra Infinita, Parte 1 é entretenimento puro. Me senti durante a sessão como uma criança mergulhada numa piscina cheia de todos os doces do mundo. Ou uma dessas piscinas de Nutella que fazem tanto sucesso em vídeos no youtube para a garotada.
 
Achei errado, otário.
 
O açúcar é um veneno.
 
Ano que vem não perco a segunda parte por nada nesse mundo.
 
Existir no mundo capitalista é estar sob esse transe.
 
Porde me enganar à vontade, que eu gosto.
 
O açúcar é um veneno.

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