Tem que quebrar

Moro em uma vila. 
É uma vila calma, com muitos moradores idosos, que vive um tempo próprio e é aparentemente alheia ao que acontece fora dela.
Há duas fontes de iluminação aqui. Uma, algum morador apertou o interruptor, faz um mês, e ela desligou. 
Ficamos, nós moradores, até hoje, com preguiça de ligá-la novamente. 
O botão fica na vista de todos – a mais ou menos um metro e meio de altura. Todo dia alguém passa. Todo dia ninguém se dá o trabalho de ligar o interruptor. 
Ficamos, assim, com metade da vila no escuro. 
E achamos tudo bem.
A outra fonte de iluminação da vila é igual a que foi desligada. Só que hoje de manhã ela quebrou-se. Quando uma fonte de luz se quebra, é uma dificuldade para consertar. Exige-se uma mobilização danada, e coletiva. 
Pois não deu outra: em duas horas nos mobilizamos todos e a fonte de luz foi consertada antes do meio-dia.
A outra fonte de luz, esta que é fácil, moleza de religar, a que basta passar um dedo no interruptor, permaneceu, e permanece, apagada.
Todos com aquela preguiça que dá quando a coisa é fácil de resolver.
Fazemos, coletivamente, a mesma coisa com nossas relações afetivas e profissionais.
E é assim, também, e principalmente, que nos relacionamos com a nossa cidade, com o nosso país.
Precisa esperar quebrar.

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