David Byrne: o melhor show da história do Lolla?


No meio do deliciosa sopa que é a mistureba de artistas, para todos os gostos e gerações, que caracteriza grandes festivais como o Lollapalooza, não chamou atenção a escalação de David Byrne. Ficou perdido lá pelo meio.E assim, como quem não quer nada, Byrne deu o melhor show da história do festiva no Brasil.Exagero? Ou ciência?Como fazem as ligas de Escolas de Samba, pode-se classificar shows por seu conjunto ou por quesitos. O quesito música é subjetivo. É gosto. Ver a página 325 do calhamaço “Como funciona a Música” (Ed. Amarilys), livro onde Byrne fala sobre neurologia e música, a partir de pesquisas e estudos e sua vivência com as artes plásticas.David Byrne é, além de músico e escritor, cineasta, cenógrafo, coreógrafo, e descrito numa capa da revista Time, em 1987, como o novo homem renascentista.Então o show American Utopia, que Byrne acabou de apresentar em São Paulo foi o melhor show da história do Lolla nos quesitos cenografia, conceito, direção de arte, figurino. Música é o único quesito não exato. Mas como discutir com um repertório que conta com canções dos Talking Heads em seu setlist? Se nas canções dos Talking Heads estão embutidas todas as sonoridades das as bandas hoje, do Hip Hop ao Hipster Rock?Banda em pé, móvel, concebida a partir da formação dos novos blocos do carnaval carioca (Orquestra Voadora e, antes disso, da formação da banda Pedro Luis e a Parede). Cenografia a partir do trabalho de Rodrigo Pederneiras para o espetáculo Onqotô, do Grupo Corpo. Agenda positiva. David Byrne está  com sua turnê mais brasileira.Seus laços com o Brasil vão desde a brodagem com a medalhões da MPB até a ainda não estimada responsabilidade pela ressurreição de Tom Zé, esquecido por seus colegas brasileiros, inclusive tropicalistas, até os anos 90, quando Byrne veio ao Brasil e resolveu lançar Tom Zé nos EUA, inaugurando seu selo, o Luaka Bop.O show que vimos hoje chama-se America Utopia. Para os da geração de Byrne (Arnaldo Antunes, vocês perceberam, pegou todos os trejeitos cênicos do americano, e a coreografia que vimos foi toda em cima do Tai chi Chuan, arte marcial querida por Jorge Mautner e Lou Reed) o que resolveria os problemas dos EUA (talvez do mundo inteiro) seria um pouco de Brasil em suas veias.Para essa geração, a de artistas que hoje passou dos 70, o Brasil será sempre um Norte, o país do Futuro, o único que resolveu, via amálgama, um modo de misturar de fato raças e etnias.Também por isso, a canção mais celebrada de seu set é “This must to be the Place (Naive Song).Este deve ser o Lugar (canção ingênua).Psycho Killer – hino dos Talking Heads que recentemente voltou à moda nas pistas de dança, sumariamente fora do set. Fora da utopia de David Byrne.Essa suspensão de descrença é nada menos que o show do ano.E o melhor do Lolla em todos os tempos.

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